18 de agosto de 2016

Quando o mundo adormece

Já faz um tempo que quero compartilhar uma decisão com os leitores e as pessoas que acompanham e apoiam minha empreitada pela literatura, em especial através do Lagoena.  Não foi fácil. Levou muito tempo para que a ideia se tornasse algo concreto e um desejo real para mim. Muitas coisas aconteceram na minha vida pessoal que pesaram na minha decisão, cheguei a um ponto que era sufocante continuar levando algo que tanto lutei para conseguir. Contraditório, não é? Eu estava muito confusa e nada confortável, além de muito cansada. Então, resolvi sair da Draco, a editora que abraçou Lagoena lá em 2013 e a publicou em 2014. Foi uma decisão exclusivamente minha e necessária. Literatura para mim nunca foi uma obrigação. Eu deveria estar bem comigo mesma para dar o meu melhor, porém eu não estava/estou muito certa de minhas convicções. Minha única certeza é a de preciso parar.
 A literatura sempre foi muito refúgio, a caverna onde eu poderia me esconder, minha voz ecoando pelas paredes de pedra.  E de repente, fiquei em companhia do meu próprio silêncio, presa dentro de uma garrafa. Por esse, e outros motivos pessoais,  vou dar um tempo, embora eu já venha exercitando meu movimento, indo devagar. Agora é urgente, preciso desacelerar, por recomendações médicas. E a literatura, minhas histórias, vão ficar guardadas, esperando que um dia eu retorne para elas, ou elas retornem para mim, pois já faz muito que não as escuto.
Espero que os leitores e amigos compreendam. Conheci muita gente legal através desse livro, leitores se tornaram mais próximos, comecei a participar de grupos que gostam de literatura e leitura, conheci pessoalmente autores que ainda tem a boa vontade de compartilhar o seu melhor para o mundo.  Fiz parceria com blogueiros com real compromisso de promover a nossa literatura. Tive boas oportunidades que apareceram naturalmente, apesar das dificuldades.  Lagoena – O Portal dos Desejos teve críticas muito positivas para um livro de estreia, de uma autora desconhecida.  Li e assimilei todas as críticas, tanto as positivas quando as negativas. Aprendi muito. E se, eu decidir republicar o livro no futuro, terá uma nova edição, com certeza.
Então, é isso. Eu passei muito tempo pensando nesse momento, em como eu contaria para vocês sobre minha “pausa sem previsão de retorno”. Para mim só resta a certeza de que Lagoena vai continuar viva em algum lugar, até um dia virar uma nova história com seu começo, meio e fim. Eu posso separar minha vida como antes e depois de Lagoena, depois de ter encontrado a Terra Secreta devo ter me tornado uma pessoa melhor, e tentei dar o meu melhor para vocês. Ela estará guardada no meu coração, e desejo que esteja no de todos vocês guardada a Sete Chaves.
P.S.1: Mesmo que meu hiato seja longo, estarei com meu perfil ativo no site Wattpad, postando contos já escritos e poesias. Vai ter um spin-off de Lagoena. Fiquem de olho, é só seguir o meu perfil.  ;)
P.S.2: Em breve vou estar disponibilizando para venda os últimos exemplares de Lagoena – O Portal dos Desejos que tenho comigo.
Obrigada a todos.
Que as Lágrimas de Aura abençoem os seus caminhos.


Arte do desginer e autor Diego Guerra.

Laísa Couto

29 de agosto de 2015

Retrato calado - Poesia


Estava procurando algumas anotações antigas sobre o livro que estou escrevendo, Lagoena - A Feiticeira do Espelho, e encontrei esse texto perdido entre as folhas. Nem lembrava dele, cheguei a duvidar que fosse meu e até procurei a autoria no Google. É, eu mesma escrevi. Então, resolvi publicar aqui no blog.





Retrato calado

Meu sorriso é mudo.
Corre no vácuo um grito.
O destino atravessa na teia, no risco.
No espelho, a sombra do infinito.
Nos lábios, o balbuciar aflito.
É agudo o instante
que corrompe formas,
dissolve  eras.
E engole o reflexo do teto
debaixo do travesseiro.
Olhos, imagem em branco.
Códigos de raízes e brumas,
na superfície de uma pele nua.
Retrato calado.
Fardo.
Trama do mundo.
O outro lado.
De um caminho sem trato.

Laísa Couto

9 de agosto de 2015

Profundo



 Foto de Silvia Maria


Tão profundo,
Morta no leito do rio.
As águas deixam molhar os cabelos negros
Lavam os pés
Correm frias
Na escuridão
Dançam devagar naquele mundo de calmaria estranha
Dançam
Dançam
Vozes perdidas nas correntezas que aprisionam
Os passos perdidos
Daquela que tropeçou
E se afogou na própria desventura
No fim, apenas um caminho
Cair
Cair
Devagar
De...
va...
gar..
Sozinha
No abismo pálido
Onde morre o rio
Onde morrem seus passos.

Laísa Couto - 06/06/2015

20 de julho de 2015

Clair de Lune - Quando um sonho vira história


Oi, pessoal,

Em março de 2015 a Editora Draco lançou a coletânea de contos Imaginários 6, que reúne histórias de fantasia, ficção científica e terror da vários autores nacionais. Tem um conto meu lá, chamado Clair de Lune e nesse post vou explicar como a ideia para ele surgiu. 

Tudo começou com um sonho. Certa vez sonhei com um fauno, era jovem, a pele alva e os cabelos castanhos com grandes cachos encaracolados, lembro-me muito bem. Usava uma coroa de flores e pequenas frutas. Uma angustia pairava naquele sonho. Assim que acordei e lembrei da face do jovem fauno, entendi o que tanto o angustiava. Havia um amor no mundo real, no mundo dos mortais e ele só seria concretizado se o jovem fauno abandonasse sua condição e se tornasse um homem comum, um mortal.

Ao relatar o sonho no Facebook, sugeriam que eu escrevesse um conto, meses depois eu comecei a narrar a história, depois de uma busca em livros e em artigos na internet sobre o mito de Pã, nasceu a história de Sileno, seu filho e Clair de Lune, uma jovem misteriosa que conhece no mundo mortal.

 Ilustração de Kristin Baugh Shiraef.

Primeiro, em Clair de Lune deixei meu lado poético mais solto. Foi bom ver os personagens crescerem intensos como as palavras que se encaixavam no espaço em branco. O conto além de uma história de amor, fala de renúncia principalmente. Existe devoção diante do desconhecido, para Sileno assim é o amor, a descoberta de um caminho incerto no escuro. O mais interessante de ter escrito esse conto, foi poder brincar com sentimentos intensos e o instinto, o impulso sexual que é muito característico do fauno, principalmente tratando-se de Pã, e claro que o filho herdaria as mesmas "qualidades". Ao estudar sobre o mito do Deus dos Bosques, descobri que relacionam sua morte com o advento do Cristianismo, então também resolvi escrever minha versão da morte de Pã nesse conto.

Enquanto a história ia crescendo, a busca pelo título ideal pedia urgência. Foi aí que o nome de uma leitora de Lagoena entrou em cena. Certa vez descobri na página do livro uma leitora que se chamava Clair de Lune, conversando, perguntei se o nome era apenas um nick de internet, ela disse que não, era seu nome verdadeiro, que o pai havia escolhido, pois apreciava a composição do músico francês Claude Debussy. Logo descobri que Clair de Lune é uma composição muito famosa, e acho muito difícil alguém não tê-la escutado em alguma trilha sonora de filme ou novela. Pesquisando mais a fundo, li que Clair de Lune é a terceira parte da Suite de Bergamasque, uma composição em piano de Debussy e foi inspirada na poesia, que leva o mesmo título, do autor francês Paul Verlaine. Na época, fora escrita para sua mulher, mas o casamento teve fim e Verlaine assumiu sua homossexualidade, tendo um relacionamento com Rimbaud. Acabei percebendo que Clair de Lune tem uma longa história, que envolve amores e perdas.

Para criar o ambiente do conto misturei aspectos da mitologia grega com mundo contemporâneo, o cenário é uma cidade sempre noturna, com seus bares e becos escondidos. Sileno contrasta com sua aura de mistério entre os meros mortais, que não conseguem compreender o quanto ele é diferente dos outros, somente uma pessoa consegue desvendar seu segredo: Clair de Lune.



Na época, escrevi o conto escutando Sigur Rós, mas tem uma música em especial que carrega a aura noturna e jovial dos personagens. Flight Facilities compôs uma música com uma pegada estilo balada, chama-se também Clair de Lune.




Eu sempre tive vontade de aprender a língua francesa desde de criança, ano passado finalmente comecei meu curso, infelizmente parei no começo do ano, mas retorno o estudo nesse segundo semestre. Segue abaixo abaixo a poesia de Paul Verlaine em francês e português.


Clair de lune
Paul Verlaine, 1869

Votre âme est un paysage choisi
Que vont charmant masques et bergamasques
Jouant du luth et dansant et quasi
Tristes sous leurs déguisements fantasques.

Tout en chantant sur le mode mineur
L'amour vainqueur et la vie opportune,
Ils n'ont pas l'air de croire à leur bonheur
Et leur chanson se mêle au clair de lune,

Au calme clair de lune triste et beau,
Qui fait rêver les oiseaux dans les arbres
Et sangloter d'extase les jets d'eau,
Les grands jets d'eau sveltes parmi les marbres
Luar

A tua alma é uma paisagem escolhida
Onde enganam máscaras e bergamascas
Tocam lira e dançam quase
Tristes sob os seus fantásticos disfarces.

Cantando em modo menor
O amor triunfante e a vida auspiciosa,
Não parecem acreditar na sua felicidade
E a sua canção se mistura com o luar,

Com o calmo luar triste e belo,
Que faz sonhar as aves nas árvores
E soluçar de êxtase os jactos de água,
Os grandes jactos de água esbelta entre os mármores.
 Baixe o livro nas livrarias aqui.

Bem, espero que tenham gostado da apresentação do conto e que tenham ficado curiosos para conhecer a nova versão da morte de Pã e como Sileno conseguiu sua mortalidade para ter o amor de Clair de Lune.

Até a próxima.

Laísa Couto