15 de dezembro de 2012

Contanto um conto

O conto abaixo foi escrito em 2007. Vou compartilhar com vocês, apesar da vergonha.rs. Hoje, percebi como minha escrita amadureceu e se tornou mais, digamos, profunda... Este conto escrevi como um exercício de inspiração para LAGOENA, apesar de não existir elfos por lá, esse texto simples dá pistas sobre os segredos da trama. E dá para perceber a influência de Tolkien, pois lia O Senhor dos Anéis na época. Bom, espero que gostem....

O elfo triste

Numa terra longínqua, muito além do Mar do Leste, vivia um povo que outrora fora muito feliz. Lá, nas Terras Remotas esse povo não via mais a alegria do Sol, pois sempre era noite de um escuro sem estrelas, acompanhada por uma Lua pálida e solitária. Nas bordas distantes do mundo, as boas lembranças dos tempos antigos nunca foram esquecidas, mas era doloroso lembrá-las, o coração sentia o vazio do tempo que nunca passava e a saudade que nunca cessava.

Nas Terras Remotas viviam os elfos que um dia foram expulsos do seu verdadeiro lar. Era um preço a ser pago por um mal acometido, porém pouco se fala do passado obscuro, o sentimento ruim das más lembranças invadia alma e corroia o coração. Infelizes viviam, sonhando com o dia que voltariam ao Lar Distante, depois que o erro de seus antepassados fosse totalmente perdido no tempo...

Sentado no alto de uma encosta de um monte virado para o imenso mar intransponível, estava um pequeno elfo, solitário e pensativo, era Lufelor. O seu olhar se perdia no limite do horizonte com um desejo de poder ultrapassá-lo e finalmente conhecer a bela terra da qual seu povo falava. Ouvira dizer sobre as florestas cheias de segredos e campos intermináveis, tudo sempre brilhava a luz do Sol, que o pequeno elfo não conhecia. Perguntava-se se na sua longa existência veria toda a maravilha do Lar Distante, a terra dos grandes reis élficos que padeceram na Discórdia levando seu povo a um vácuo no tempo, onde nada passa, nada muda.

Lufelor sentia que ainda poderia voltar e no seu intimo sempre cultivava a esperança que guardava no coração cheio de boas estórias do passado. No entanto o sentimento que mais conhecia naquele mundo sombrio era a tristeza e todo o povo dos elfos compartilhava dela, pois as lembranças do Lar Distante o tempo nunca foi capaz de apagar, os envolvia como uma névoa densa e dolorosa, naquele lugar sem a presença cálida da luz. Triste assim, Lufelor vivia, perdido nos devaneios que cantarolavam doces notas vindas de uma terra desconhecida, onde um dia fora nascente daquela civilização encantada, que como um rio límpido e luminoso como as estrelas, transbordou nos mares do vasto mundo. O menino elfo, desde muito pequeno aprendera sua tradição, sabia da cada letra, cada palavra, cada verso de canções e estórias. Da palavra sábia dos mais velhos ouvira dizer sobre leis que outrora foram desobedecidas e que levaram seu povo à ruína do tempo perdido.

O elfo triste ficava a sonhar, desejando um futuro que não sabia se viria ou veria no tempo que não tinha resquícios do passado, a certeza do presente e nem a esperança do futuro. Lufelor só tinha uma certeza nesses dias que parecia ser sempre o mesmo – sentaria na beira da encosta e contemplaria o mar negro e sua esposa, a Lua, que refletia sua face pálida no espelho escuro, reservando para si os segredos que o vento trazia do horizonte além.

Não havia ninguém que lhe trouxesse uma palavra de consolo, pois todos estavam mergulhados no sofrimento dos dias eternos. Como suportavam a saudade do Lar Distante? Não havia resposta para tal questão. Era insuportável a falta do Sol, dos rios caudalosos, dos mares cálidos, das montanhas altivas, das florestas douradas e das criaturas amigas. Viviam numa terra onde as árvores eram vultos e os animais eram ilusórios, fazendo o mundo parecer um vazio infinito.

Ao Oeste do mar deixaram para traz seus fabulosos castelos, uns isolados no seio das florestas, outros perdidos nos campos. O mais imponente e belo ficara incrustado nas grandes montanhas com a face para o Sol nascente. Suas moradas foram abandonadas, umas foram engolidas pelas florestas, outras desapareceram, adubando a terra com seu pó.

O menino elfo se perdia em tantas lembranças que não eram suas, mas pareciam fazer parte seu coração. Para ele era difícil esquecer um passado que sempre se fazia presente. Era amargo existir sem poder saber se um dia poderia viver uma lembrança, como no passado, quando seu povo fora feliz.


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