O conto abaixo foi escrito em 2007. Vou compartilhar com vocês, apesar da vergonha.rs. Hoje, percebi como minha escrita amadureceu e se tornou mais, digamos, profunda... Este conto escrevi como um exercício de inspiração para LAGOENA, apesar de não existir elfos por lá, esse texto simples dá pistas sobre os segredos da trama. E dá para perceber a influência de Tolkien, pois lia O Senhor dos Anéis na época. Bom, espero que gostem....
O elfo triste
Numa
terra longínqua, muito além do Mar do Leste, vivia um povo que outrora fora
muito feliz. Lá, nas Terras Remotas esse povo não via mais a alegria do Sol,
pois sempre era noite de um escuro sem estrelas, acompanhada por uma Lua pálida
e solitária. Nas bordas distantes do mundo, as boas lembranças dos tempos
antigos nunca foram esquecidas, mas era doloroso lembrá-las, o coração sentia o
vazio do tempo que nunca passava e a saudade que nunca cessava.
Nas Terras Remotas viviam os elfos que um dia
foram expulsos do seu verdadeiro lar. Era um preço a ser pago por um mal
acometido, porém pouco se fala do passado obscuro, o sentimento ruim das más
lembranças invadia alma e corroia o coração. Infelizes viviam, sonhando com o
dia que voltariam ao Lar Distante, depois que o erro de seus antepassados fosse
totalmente perdido no tempo...
Sentado no alto de uma encosta de um monte
virado para o imenso mar intransponível, estava um pequeno elfo, solitário e
pensativo, era Lufelor. O seu olhar se perdia no limite do horizonte com um
desejo de poder ultrapassá-lo e finalmente conhecer a bela terra da qual seu
povo falava. Ouvira dizer sobre as florestas cheias de segredos e campos
intermináveis, tudo sempre brilhava a luz do Sol, que o pequeno elfo não
conhecia. Perguntava-se se na sua longa existência veria toda a maravilha do
Lar Distante, a terra dos grandes reis élficos que padeceram na Discórdia
levando seu povo a um vácuo no tempo, onde nada passa, nada muda.
Lufelor sentia que ainda poderia voltar e no
seu intimo sempre cultivava a esperança que guardava no coração cheio de boas
estórias do passado. No entanto o sentimento que mais conhecia naquele mundo
sombrio era a tristeza e todo o povo dos elfos compartilhava dela, pois as
lembranças do Lar Distante o tempo nunca foi capaz de apagar, os envolvia como
uma névoa densa e dolorosa, naquele lugar sem a presença cálida da luz. Triste
assim, Lufelor vivia, perdido nos devaneios que cantarolavam doces notas vindas
de uma terra desconhecida, onde um dia fora nascente daquela civilização
encantada, que como um rio límpido e luminoso como as estrelas, transbordou nos
mares do vasto mundo. O menino elfo, desde muito pequeno aprendera sua
tradição, sabia da cada letra, cada palavra, cada verso de canções e estórias.
Da palavra sábia dos mais velhos ouvira dizer sobre leis que outrora foram
desobedecidas e que levaram seu povo à ruína do tempo perdido.
O elfo triste ficava a sonhar, desejando um
futuro que não sabia se viria ou veria no tempo que não tinha resquícios do
passado, a certeza do presente e nem a esperança do futuro. Lufelor só tinha
uma certeza nesses dias que parecia ser sempre o mesmo – sentaria na beira da
encosta e contemplaria o mar negro e sua esposa, a Lua, que refletia sua face
pálida no espelho escuro, reservando para si os segredos que o vento trazia do
horizonte além.
Não havia ninguém que lhe trouxesse uma
palavra de consolo, pois todos estavam mergulhados no sofrimento dos dias
eternos. Como suportavam a saudade do Lar Distante? Não havia resposta para tal
questão. Era insuportável a falta do Sol, dos rios caudalosos, dos mares
cálidos, das montanhas altivas, das florestas douradas e das criaturas amigas.
Viviam numa terra onde as árvores eram vultos e os animais eram ilusórios,
fazendo o mundo parecer um vazio infinito.
Ao Oeste do mar deixaram para traz seus
fabulosos castelos, uns isolados no seio das florestas, outros perdidos nos
campos. O mais imponente e belo ficara incrustado nas grandes montanhas com a
face para o Sol nascente. Suas moradas foram abandonadas, umas foram engolidas
pelas florestas, outras desapareceram, adubando a terra com seu pó.
O menino elfo se perdia em tantas
lembranças que não eram suas, mas pareciam fazer parte seu coração. Para ele
era difícil esquecer um passado que sempre se fazia presente. Era amargo
existir sem poder saber se um dia poderia viver uma lembrança, como no passado,
quando seu povo fora feliz.
0 Outras confissões...:
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