Andei lendo por esses tempos, me perdendo mais nos livros do que na realidade, deixando os discursos falsos da rotina de lado. Me perder em outros cantos é fácil, pode ser até no escuro, onde ninguém possa me encontrar.
Hoje vinha no ônibus lendo um pequeno livro de conto da Marina Colasanti, já falei sobre a autora aqui no blog. Encontrei o livro por acaso numa banca de revista no centro da cidade e como ela virá em Novembro para a feira do livro daqui, adquiri logo um exemplar para conseguir um autografo dela.
Semana passava me peguei pensando numa prosa poética antes de dormir, mas como o sono já ia alto, resolvi esperar na manhã seguinte se ela iria aparecer de novo. Nem me esforcei para lembrar dos versos, porém deixei essência guardada em alguma gaveta da memória e lendo os contos de Marina Colasanti a ideia transbordou tomando outra forma, pensei num título, A Jovem e a Montanha, escrevi escutando Comforting Souds da Birdy, eis então o que as palavras disseram:
Ative o play e leia conforme dança a música.
A
Jovem e a Montanha
Era verão, o trigal vicejava
dourado sob o pôr do sol longínquo, na beira do mundo e para lá o olhar da
jovem se perdia, para o horizonte, para o abismo que a noite abria no entardecer. Da janela de sua simples
casa a jovem sonhava, tecia estradas que a levaria para longe, para além dos
campos plácidos, dos bosques soturnos, das vilas enfeitadas de brevidades. Ela
desejava alcançar a grande Montanha que cobria seus olhos, perturbava suas
noites com uma profunda e eterna escuridão, desejava mais que tudo sentir o
frio da sombra de veludo que emergia da terra e tocava a face do céu sem pudor.
E sem demora, antes que seu intenso e dolorido desejo lhe rasgasse o peito, ela
partiu, o sol tingindo suas longas vestes de vermelho escaldante.
O vento a abraçou com
suas mãos cálidas, o corpo da jovem foi ar ao simples toque. Num sopro quente
ela percorreu veredas desconhecidas, sorrateira ouviu os segredos dos amantes.
Bebeu da lágrima de um recém nascido. Roubou o último suspiro. Tocou as saias
da virgem moça que passava. Fez luzir um sorriso. Brincou que era música e
sinos aos ouvidos alheios. Traçou destinos que não eram seus. Sentiu a solidão
dos quartos vazios. Viu a fome nos olhares perdidos e o desespero calejado nas
mãos.
A jovem era ar, suas
dores eram vapores de angustia e medo. O vestido ora escarlate, era sombra na
noite que vinha tomar seu lugar, engolia tudo com suas nebulosas e cometas.
Muda, ia atrás do seu rumo, alcançar sua própria perdição, a grande Montanha no
fim do mundo. No ondular dos seus cachos
diáfanos, ela moldou suas memórias e deixou que o tempo futuro desenhasse as
teias finas e brancas do passado. Não se esconderia do anoitecer, nem se
desviaria do gigante de rocha e sombra, se tinha olhos, eles perdiam-se numa
imensidão infinita, se tinha boca, não era para falar.
Nada, nem uma hesitação
a impediria daquele encontro. O desejo de ser a escuridão ardia com voracidade
e num baque seu peito partiu-se em
pedra, os ossos explodiram em milhares de estrelas. Trovões romperam numa prece
de ira! O mar revoltou-se nos oceanos clamando por temor! A pedras caíram em
comoção ao encontro fatídico! A Montanha ergueu-se como a rainha da noite, a jovem, o marco negro no horizonte, a porta
para as trevas na madrugada. Orgulhosas elas se uniram numa colisão de luz e
sacrifício, a Jovem e a Montanha, mãe e filha do caos.
Até a próxima,
Laísa Couto
4 Outras confissões...:
Belíssimo!
Obrigada pela visita, Samuel.
Muito bom, excelente! Birdy :3
Obrigada, pela visita, Lucas. A música da Birdy inspira.
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