5 de novembro de 2009

Desjejum



Semana passada sob a escuridão do meu quarto e munida somente de caneta e papel, despejei algumas palavras sobre a branca superfície lisa com auxílio da luz do visor do meu celular...nunca tinha experimentado essa sensação...a de escrever no escuro. Senti uma mistura de mistério e alívio, pois para mim as palavras ainda parecem seres envoltos por um véu, que quanto mais tento desvendar seus mistérios, mas sinto fugir de mim...


Teci algumas palavras sobre o papel naquele mundo escuro, senti a felicidade abacar-me por alguns instantes... esse é meu alimento, que desgusto raramente, no entanto todo dia penso no próximo banquete, minhas entranhas doem, esperando o desjejum depois da ausência dessa felicidade momentânia... Então, num canto, meu coração notívago se alimenta de algumas palavras...

Esse foi um dos 3 pequenos textos que escrevi naquela noite:


Submersa


Sinto-me toda mar, ninfa submersa nos paraísos das memórias frágeis adornadas em pérolas. Meu coração não respira mais o mundo além, meu oxigênio vem das profundezas, meu alimento é o mistério, meu espírito errante arrebenta junto as ondas do mar, sinto a dor, sinto a graça de ser.

Escuto a ausência repentina do meu coração. Afogo-me entre os pensamentos pintados em corais verdes, azuis, rosas, nada,nada!... somente as ondas, somente o silêncio...


Nesse mar de ninguém nunca fui rainha, nem quis aprender o poder ilusório das sereias - a mentira. Acompanho o viajante parti em busca do horizonte, dos sonhos, e eu...e eu?! Brinco apenas de ser cristal frágil, submersa num mar calmo, sem vida, branco apenas como uma folha de papel.

Não vou colecionar estrelas-do-mar nas pronfundezas dessas águas frias e inertes. A tempestade logo virá e furiosa e me fará sangrar até tingir o mar de vermelho, de lágrimas, de palavras...

Submersa sob os próprios nós, rasgarei cada centímetro da minha carne, tocarei cada nota melodiosa da minha dor e escreverei cada história da minha vida, mesmo não sabendo viver, mesmo submersa...

1 Outras confissões...:

Átila Siqueira. disse...

Também tenho esse costume de notívago de escrever pela noite a dentro, e no escuro, muitas vezes. A sensação é mesmo de estarmos em outro mundo.

Adorei a postagem.

Um grande abraço,
Átila Siqueira.

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