"Enquanto Rheita se debatia contra a própria vontade do seu corpo translúcido, uma grande sombra surgiu a sua frente. A sombra cresceu aflorando de uma fumaça negra e foi tomando forma, até se tornar numa figura gigantesca. Seus pés não apareciam sob a capa negra, o rosto coberto por uma máscara dourada com contornos que lembravam a face canina de um chacal estava encoberto parcialmente pela sombra do capuz. As mãos magras de dedos compridos estavam açoitadas por chagas, numa das mãos, ela, a Morte, carregava uma balança de ouro, Rheita notou que sobre um dos pratos havia uma pena alva, que flutuava no ar, e não tocava sua superfície, o outro prato estava completamente vazio. A Morte, grandiosa, imponente e temível acomodou-se num grande trono, todo feito em ouro e ficou ali, calada, contemplando em silêncio a menina, os olhos vazios escondidos na penumbra que o capuz reproduzia. Rheita sentindo ser observada, colou os olhos no chão e recolhendo uma gota da coragem que sobrava dentro de si, ela perguntou:
- Que lugar é este? - Isso era o que mais desejava saber desde que chegara ali.
A Morte logo respondeu, sua voz não era nem fria, nem cálida, apenas dura, havia uma distância, uma plenitude perpétua, um eco em cada palavra que pronunciava.
- Esta aqui é A Sala das Duas Verdades, Rheita - Ela sabia seu nome.
- Hum... - disse Rheita, ainda encarando o chão. - Eu pensava que quando uma pessoa morresse, ela iria para o Céu - comentou inocentemente.
- O Céu fica após uma porta um pouco mais além, criança – informou a Morte, num tom sem comoção.
- E como eu faço para encontrá-la? - indagou a menina, desta vez olhando brevemente para a máscara dourada. - Eu não gosto desse lugar – Ela olhou em redor, os corações palpitando vivamente dentro dos potes, e depois voltou a encarar o chão.
- Você não pode seguir adiante, Rheita, sem antes passar no grande teste! - A voz da Morte ecoou pela sala, fazendo os vidros retinirem.
- Teste? Que teste? - Rheita voltou a encará-la, no fundo não ficou tão intimidada.
- O teste das Duas Verdades, criança, as verdades que nunca erram, aquelas que o Homem nunca foi capaz de esconder, sejam elas feitas para o bem ou para o mal, a única e pura verdade...
Rheita permaneceu silenciosa e a Morte continuou:
- Muitos já vieram até mim durante toda minha longa eternidade, tenho todos seus nomes gravados nessa estante. Conheci cada um, suas virtudes e seus defeitos, nada passa despercebido sob meus olhos, vejo tudo, até a fagulha mais fraca da mentira. Não estou aqui para perdoar os desvirtuosos, meu papel é decidir quem segue e quem fica... Pois para o Homem eu só mostro a verdade, não importa qual seja... O seu coração será pesado em minha balança e a Pena da Verdade vai dizer se ele é leve o bastante para ir em frente ou pesado demais para não avançar nem um passo..."
Olá pessoal,
O trecho acima faz parte do Capítulo 29 do meu primeiro livro. Esta parte da estória sempre me dá muito o que pensar. Vou deixá-los livres que tirarem suas próprias conclusões...
Até!
Laísa C.
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