11 de outubro de 2011

Mercado vs. literatura brasileira - singularidades do mercado editorial


Sob a permanente pressão das transformações impostas pelas novas tecnologias no campo das comunicações e pelo fundamentalismo de mercado decorrente da globalização, a indústria do livro no Brasil enfrenta uma crise de identidade que ameaça colocar em sério perigo o futuro da literatura brasileira.


Como reflexo retardado de um fenômeno que se manifesta pelo menos desde os anos 70 no Primeiro Mundo, o big business editorial brasileiro tem intensificado, a partir da virada do século, a tendência a ser gerido como um negócio qualquer, desconsiderando a responsabilidade social que implica o fato de trabalhar com um produto especial, o livro. O resultado disso é que as grandes corporações editoriais brasileiras que atuam no segmento trade, que trabalha com conteúdos de interesse geral destinados à venda basicamente nas livrarias, hoje estão muito mais preocupadas com o desempenho comercial do que com o conteúdo dos títulos que lançam.


Enquanto um grande número de escritores iniciantes, e até mesmo daqueles com obras já publicadas, encontram enormes dificuldades para publicar seus livros, as grandes editoras investem centenas de milhares de dólares no pagamento de advances para autores estrangeiros que despontam com sucesso nas listas de mais vendidos no Exterior. A missão de divulgar a literatura brasileira, principalmente o indispensável trabalho de novos autores, acaba ficando quase que completamente sob a responsabilidade de pequenas e médias editoras ou das casas publicadoras sem fins lucrativos. Mas estas, colocadas à margem da corrente principal do mercado de livros, estão em condição de absoluta desigualdade para disputar com as “donas do mercado” o público leitor brasileiro que, além de ser relativamente pequeno, tem um consumo anual per capita muito abaixo daquele ostentado pelos países da Europa e da América do Norte.


Uma rápida consulta às listas de livros mais vendidos no País revela claramente que, com raríssimas exceções, quase todas restritas ao segmento da auto-ajuda, aos escritores brasileiros está reservado um papel secundário no panorama literário nacional, se para tanto se adota como referência principal a venda de livros. Há uma ampla série de circunstâncias que envolvem e ajudam a explicar o funcionamento do mercado livreiro e, consequentemente, a enorme escassez de literatura brasileira entre os best-sellers. Mas a explicação básica para esse indesejável fenômeno é a clara determinação dos principais grupos editoriais do segmento trade de não investir no “produto” brasileiro de conteúdo literário, preferindo a ele o prato feito dos campeões de vendas estrangeiros ou as promessas de faturamento rápido oferecidas pelas obviedades e platitudes encomendadas a celebridades momentâneas.


O que falta, portanto, é investimento na literatura brasileira. O que é preciso é resgatar, com o indispensável apoio das boas técnicas de gestão empresarial e de marketing, o ideal literário de um punhado de editores românticos, sonhadores e apaixonados pela literatura que, há não mais de meio século, foram os responsáveis pela publicação da maior parte do que hoje ainda existe de melhor no acervo bibliográfico brasileiro. Um VIVA! a Monteiro Lobato, Caio Prado, Enio Silveira, Jorge Zahar, José Olympio, Valdir Martins Fontes, Fernando Gasparian, para mencionar apenas alguns dos que já se foram.


Oi pessoal, recebi um email hoje da UBE, e gostaria de compartilhar com todos esse artigo do jornalista e editor Quartim de Moraes que irá dirigir uma palestra no Congresso Brasileiro de Escritores, em Riberão Pedro no próximo mês, nos dias 12 a 15. As inscrições para o evento ainda estão abertas. Vou colocar aqui o link do site.

Congresso Brasileiro de Escritores

http://www.ube.org.br/congresso/default.asp


Laísa C.

5 Outras confissões...:

Unknown disse...

Oi Laísa. Eu sou um escritor bem cético, ou talvez, por fazer parte de minha personalidade ser muito realista, com os pés muito firmes no chão.
Nosso país é lamentável em termos de protesto, penso que apenas os LGBTs tenham a mesma determinação que os nossos vizinhos argentinos de ir para as ruas e gritar por seus direitos, de resto, vemos pouca ação e conseqüentemente, nenhum resultado, o que é lamentável, mas real.
Eu não estou acomodado e repito, sou realista. Para mim ser escritor é como qualquer trabalho, muitas pessoas que leram o 11 noites insones me disseram para enviar o original para grandes editoras, mas quem sou eu? Aqui escritores só são publicados se tem algum "apadrinhamento", tal como a Tati Bernardi que disse em entrevista ao programa do Jô que conseguiu publicar porque tinha um canal: um jornalista e escritor muito reconhecido para ajudá-la.
Eu, eu não sou de família influente no mundo literário e hoje os tempos são outros dos tempos de Monteiro Lobato, onde as pessoas liam! Hoje, fazer um brasileiro ler de verdade já é uma luta, reclamam até de posts "longos" em blogues, quanto mais ler um livro.
Os que lêem são uma classe ainda pequena, e vejo muitos novos autores. A verdade é, muitos querem ser lidos, mas poucos querem ler. Dos seguidores de meu blogue, apenas dois compraram meu e-book e veja bem que não está caro. Nem mesmo a versão impressa, pois para os brasileiros o frete é grátis.
Ah, que pena... esqueci de mencionar, quem comprou eram portugueses...
Por isto a nossa jornada, de novos autores sem apadrinhamento e sem bajulações ou jogadas de marketing como DarkWriterBr (que para mim é uma jogada de marketing, suspeito que haja até mais de um autor envolvido no projeto, talvez uma editora, não sou muito crédulo no (a) escritor (a) misterioso (a), mas se eu estiver certo é uma jogada que está dando certo para nossa literatura ao menos) é muito difícil, nós temos que ser independentes mesmo e divulgar. Comprar os próprios exemplares e oferecer em consignação em livrarias. É o que tenho feito para vender, muito melhor do que ser sugado por editoras que exigem mínimo de 1000 exemplares que criarão mofo em sua casa pois não dará conta de vendê-los todos se não tiver dinheiro para pagar distribuidores também ou então, ficar enviando meus originais e esperar sentado junto a uns 200 sonhadores que enviam seus originais que certamente nem são lidos pelas editoras conceituadas.
Esta é minha posição, desculpe pelo comentário extenso, mas é que este assunto dá o que debater.

tatiana disse...

é óptimo que tenha gostado e gratificante que alguém se identifique com a minha história. muito obrigada.

Cleide disse...

Adorei seu blog! Parabéns...

Kleris disse...

O mercado deve tá querendo estabilidade, por isso andam apostando muito em livros estrangeiros, pq é garantido o sucesso deles lá fora e qnd chegam aqui, por maioria já têm um público esperando a tradução. Ambiciosos. Nisso, a literatura nacional fica de segundo plano, e mais cara por incrível que pareça - eu entendo, mas não concordo. Tem muito livro bom saindo e ainda assim as editoras resistem muito. Pior, tenho visto muita gente reclamar das revisões... alguns livros tem cada erro grosseiro de revisão, que dá pena pensar que tem várias impressões assim nas estantes. Poxa, que cuidado é esse com a literatura brasileira?

Laísa Couto disse...

Olá Kleris, é verdade quando diz que temos livros estrageiros mau editados em nossas prateleira, enquanto isso, temos nossos autores nacionais em segundo, terceiro plano, e se isso ainda acontecer...é uma pena..

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