O horizonte estava de todo negro, não havia nada ali, nenhuma vida, nenhum sentimento, nenhuma lembrança, nenhum coração. Era somente eu e o abismo, eu e uma fenda escura, infinita e vazia, por onde meus pés estavam tentados a escorregar. Um passo. Mirei o nada em minha frente, meus olhos alcançaram a única coisa que existia – o vazio. Um passo. Ali era só dor e conforto, problema e solução, paz e morte... Um passo.
As lágrimas choraram por minha voz perdida nas montanhas altivas da incompreensão, era o único sopro cálido naquele frio mortal, aquecia mais que o fogo, consolava mais que palavras... era o fluido que diluía tudo, inclusiva a dor.
Minhas mãos sumiram na brancura nebulosa do vestido, se esconderam de tão frágeis – palma pequena, dedos finos, mãos de criança. Não brincam mais como outrora, esconderam-se com vergonha da miudeza inocente. Mais um passo. Não há nada em que se agarrar, apenas um fio demasiado quebradiço, fio feito de desesperança e da desilusão. Outro passo. Meu tato não sentiria nada, somente o vácuo do precipício - início da fatídica libertação.
Sentiria tranqüilidade, meu coração silenciaria mudo, sem nenhum bravo palpitar protestante, ele mais do que eu entendia que o sossego das palavras ditas e gritadas era tão precioso quanto o sossego da alma. Ele queria descansar nos vales distantes, para muito além daquele mundo obscuro e inóspito. Mais um passo.
Eu viajaria naquela imensidão infinita feita de nada, cairia... cairia... flutuaria como um pássaro no ar, que se despede num derradeiro vôo. Seria eu, o pássaro branco que sempre dá boas vindas a noite, se estivesse dado um passo... somente um passo...
2 Outras confissões...:
Bom texto.
Talvez o passo conduzisse a um tipo de síndrome de locked-in em queda livre. Certa vez pensei em escrever algo desse tipo.
olá, laísa, obrigado pela visita. realmente os livros são bons, tanto é que fiz uma resenha comparativa deles no http://www.amalgama.blog.br/08/2008/leitura-para-escritores/
abraços.
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